Saiba como e por que a prática meditativa tem ganhado espaço nas salas de aula e ajudado tanto alunos quanto professores a lidar com o estresse, a indisciplina, a falta de atenção e a violência dentro das escolas
Texto • Lívia Filadelfo - Fonte: Triada
São 10 horas da manhã. É recreio na escola Bernardo Valadares, em
Sete Lagoas (MG). Mas em vez do barulho típico de uma multidão de
crianças brincando, o que se ouve do lado de fora é o mais puro
silêncio. Quem passa desavisado pela rua não entende. Mas o motivo do
silêncio é nobre: lá dentro, centenas de alunos estão em sala de aula,
sentados, com a postura reta, o rosto sério e os olhos fechados –
meditando.
Não se trata de um colégio religioso ou próprio de meditação. O
Bernardo Valadares é, na verdade, um colégio público que fica em uma
região de periferia, que tem diversos problemas socioeconômicos. A
meditação foi o recurso mais eficiente que a diretora Maria da Luz
encontrou para acabar com a indisciplina e com a violência e melhorar o
desempenho acadêmico dos alunos.
“Quando nos chamou, ela já havia testado outras atividades, como
aulas de teatro e dança, mas nenhuma teve sucesso”, conta Juliana
Brescovicci, professora de meditação que coordena os trabalhos na
Bernardo Valadares, uma de quatro escolas de Minas Gerais que já
incluíram a prática no cronograma de aulas. Só naquele estado outras
seis estão se preparando para fazer o mesmo. E não é apenas lá.
No Rio de Janeiro, a Secretaria de Educação do Estado tem planos de
implantar a meditação transcendental em todas as escolas da rede pública
como disciplina regular. Ainda neste ano, dois colégios, em Copacabana e
no Leblon, devem começar a receber as aulas de profissionais
especializados nesse tipo de relaxamento. O projeto conta com o apoio do
renomado cineasta americano David Lynch, criador de uma fundação que
divulga os benefícios da meditação transcendental por todo o mundo.
A intenção é repetir no Rio os bons resultados que as cidades
mineiras de Sete Lagoas e Ribeirão das Neves obtiveram com essa nova
adesão – um sucesso que ultrapassou os muros do colégio: coincidência ou
não, no mês seguinte ao início da meditação em Bernardo Valadares,
pesquisas mostraram uma redução de 57% na criminalidade na região.
O fato não surpreende a equipe responsável por ensinar a técnica aos
alunos. “Quando um grupo pratica a meditação transcendental, a paz e a
coerência no comportamento se propagam, atingindo milhares de pessoas
que estão à volta”, diz Gregório Rodriguez, um dos instrutores do
projeto.
O desafio da implantação da nova disciplina, no entanto, é grande.
Quem explica o porquê é o professor de meditação Nisargan, que conduziu,
em 1999, um projeto semelhante em São Francisco Xavier, cidade no
interior de São Paulo. “É necessário que os jovens tenham um certo nível
de maturidade e interesse. A meditação não pode ser imposta ou forçada;
eles devem participar voluntariamente”, explica.
Incentivo pontual
Fazer as centenas de alunos de Bernardo Valadares aderirem à ideia
também não foi fácil. Para tanto, a diretora Maria da Luz estabeleceu
uma regra muito simples: quem topasse participar das sessões de
meditação teria, no final do ano, um bônus de dois pontos na nota. Quem
não quisesse, ficaria com a mesma nota. E o mais importante: aqueles que
atrapalhassem o processo perderiam dois pontos na nota final. “No
início, muitos alunos entraram apenas para ganhar os pontos, mas depois
foram sentindo os resultados e começaram a praticar por vontade
própria”, conta Juliana Brescovicci.
E os benefícios foram muitos. Quando meditam, os alunos entram em
estado de relaxamento profundo, uma sensação de repouso duas vezes maior
do que a de oito horas de sono. Repouso, porém, em alerta, o que faz
aumentar a percepção e expandir a consciência. Nos 15 minutos de
meditação também é elevada a irrigação sanguínea no cérebro, melhorando
todas as funções bioquímicas do corpo.
“A técnica é muito simples, não exige nenhum esforço mental, nem
conhecimento anterior. Ensinamos tudo aos alunos em apenas cinco aulas.
Depois disso, apenas monitoramos a prática e sanamos as possíveis
dúvidas”, explica Juliana. Todo o processo pode ser resumido no relato
de um dos alunos de Bernardo Valadres: “Antes, quando alguém me
provocava no corredor da escola, eu virava e dava um murro, sem pensar,
era automático. Agora, quando alguém me provoca, eu paro e penso: ‘dou
ou não dou um murro nele?’”.
Pensar antes de agir
Estudos revelaram que o estresse, o cansaço
e a má alimentação levam os alunos a um estado de “piloto-automático”.
Ou seja, eles passam a não pensar antes de agir, apenas reagem
instintivamente aos estímulos externos. Isso atrapalha a aprendizagem,
provoca déficit de atenção e gera agressividade e violência. Segundo os
idealizadores do projeto, a meditação ativa áreas importantes do
cérebro, como o córtex pré-frontal, melhorando a concentração dos jovens
e revertendo o estado de estresse e das respostas imediatas.
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