Ele lançou um olhar profundo sobre tudo o que o
rodeava e, a partir do que à primeira vista podia parecer corriqueiro,
estruturou suas ideias. Mais de 2 mil anos depois, suas lições continuam
atuais e extremamente valiosas
Texto • Paula Bianca de Oliveira - Finte: Triada
Passam-se
os anos, mudam-se as estruturas, transformam-se as línguas. Mas as
razões e objetivos de batalhas e angústias, ou de alegrias e
contentamentos, permanecem muito parecidas. Tão similares que as lições
proferidas por Jesus há milênios se encaixam na realidade atual.
Sua sabedoria, embora tenha nascido nos primeiros 30 anos da era
Cristã, ainda hoje pode ser aplicada. Há quem afirme, inclusive, que
este conhecimento está mais atual do que nunca, pois aborda temas de
extrema importância do cotidiano de todos nós, transcendendo as questões
de fé e religiosidade.
Com simplicidade, as lições de Jesus promovem o resgate das tradições
e a manutenção da esperança e da luta. Sua palavra instiga as pessoas
para que pensem sobre a realidade na qual vivem e, mais do que isso,
sugere uma mudança de atitude.
Se lermos com atenção suas parábolas e sermões, veremos que ainda
temos muito a modificar no mundo contemporâneo se quisermos instaurar
suas lições de igualdade, justiça, liberdade, solidariedade, partilha e
dignidade humana.
E você, está pronto para essa transformação? Confira, a seguir, dez
lições para colocar os ensinamentos do Mestre em prática agora mesmo.
Viver com simplicidade
Os ensinamentos de Jesus Cristo são um convite ao retorno da
simplicidade. No Reino de Deus, não há lugar para dissimulação e
astúcia. Não há lugar para tentar ser o que não somos. Viver essa
simplicidade significa abandonar preocupações fúteis e vivenciar o que
realmente tem importância. Quem aprende essa lição se mantém sempre em
equilíbrio, conhece a si mesmo e respeita as próprias limitações. “A
nossa glória é esta: o testemunho da nossa consciência, de que, com
simplicidade e sinceridade de Deus, e não com sabedoria carnal, mas com a
graça de Deus, nos temos conduzido no mundo, e especialmente para
convosco.” (II Coríntios, 1:12).
Amar o próximo
O mais importante dos Dez Mandamentos é: “Ame o Senhor, o seu
Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todo o seu
entendimento e de todas as suas forças. E ame o seu próximo como você
ama a si mesmo” (Lucas, 10:27). O amor ao próximo é a grande lição
de Jesus Cristo para um mundo melhor. Praticar o amor, a caridade e a
solidariedade não teria tanto valor se não servisse para construir um
mundo mais irmão e mais justo. Nos dias de hoje, podemos dizer que esta
máxima tem como pano de fundo um projeto econômico, político, social e
religioso, pois amar ao próximo implica: não deixar que o outro morra de
fome, denunciar as artimanhas e projetos políticos que não visem o bem
comum, ser solidário e, claro, fazer o bem sem saber a quem. O amor
verdadeiro é mais importante do que qualquer prática exterior. Por isso,
para Jesus, nada tem valor se o homem vive em insegurança espiritual.
Não julgar os outros
No Sermão da Montanha, encontramos a lição do julgamento. A máxima é
não julgar para não ser julgado. Nele, Jesus se concentra numa situação
comum: um cisco no olho. O texto por si já demonstra um valioso
ensinamento: “Por que reparas no cisco que está no olho do teu
irmão, quando não percebes a trave que está no teu olho? Ou como poderás
dizer ao teu irmão: deixa-me tirar o cisco do teu olho, quando tu mesmo
tens uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e
então verás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão” (Mateus, 7:1).
A mensagem que este ensinamento carrega é muito pertinente na vida
moderna. Muitas pessoas, ao ocuparem-se com os erros e acertos alheios,
esquecem-se de estar atentas às suas próprias condutas. Na maioria das
vezes, as pessoas julgam pelas aparências e, com falsas moralidades, são
mais imorais do que aquelas que estão sendo julgadas.
Não cultuar bens materiais
"Olhai as aves do céu: elas não semeiam, não colhem, nem ajuntam
em celeiros e, no entanto, o vosso Pai celeste as alimenta” (Mateus, 6).
A lição que devemos aprender com os animais é que de nada vale acumular
riquezas e supervalorizar os bens materiais. A verdadeira fortuna vem
da força espiritual, da fé, do amor incondicional, das relações que
construimos com o próximo. Para quem acredita no contrário, Jesus Cristo
manda o recado: “Mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no Reino dos Céus” (Marcos, 10:25).
Ser perseverante
Perseverança é caminhar em passos lentos e constantes. É confiar,
mesmo quando não se sabe onde se pode chegar. Na Bíblia, Sara e Abraão
apresentam-se como a primeira dupla de perseverantes de todos os tempos.
Eles acreditaram nas promessas de Deus, mesmo tendo que esperar muitos
anos. “(...) Abraão, ao ser chamado por Deus, obedeceu e saiu para
uma terra que Deus lhe prometeu dar. Ele deixou o seu próprio país, sem
saber para onde ia...” (Hebreus, 11:8). Desistir é certamente o
caminho mais fácil. Afinal, existem longas batalhas e, muitas vezes,
raros aliados. Mas, como ensinou Jesus, Deus espera de nós a mesma
perseverança de Sara, que deu à luz inúmeros descendentes porque não se
deixou abater por sua velhice, e uma paciência semelhante a de Abraão,
que cumpriu as responsabilidades dadas a ele por Deus, mesmo tendo sido
constantemente tentado a desistir.
Exercitar a fé
O exercício da fé é exaltado por Jesus em inúmeras passagens. Vários
textos ilustram este ensinamento, como o relato da cura do cego
Bartimeu: “(...) O cego disse-lhe: Senhor, faze que eu recupere a vista. Então, disse-lhe Jesus: Vai, a tua fé te salvou” (Marcos, 10:51). A lição é simples: “Tudo é possível naquilo que crê” (Marcos 9:23). A fé afasta medos, promove a autoconfiança e traz alento nos momentos mais difíceis da vida.
Cultivar a justiça
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados...” (Mateus, 5:6).
Os desafios que enfrentamos em nossas vidas são muitos. Jesus tem
consciência disso e nos revela a necessidade de, mesmo diante das
dificuldades, agirmos com justiça e retidão para, assim, alcançarmos o
Reino de Deus. A crença em uma sociedade mais justa foi, inclusive, uma
das grandes motivações de Jesus para que ele começasse a pregar e a
espalhar seus ensinamentos pelo mundo. Aqui, ele reconhece que a luta
pela justiça em todas as situações pode trazer sofrimento e nos estimula
a não desanimarmos.
Dizer não à violência
A trajetória de Jesus transparece uma forte resistência às situações
de violência. Em momento algum, ele aconselha ou instiga seus seguidores
a praticar atos violentos contra os inimigos. Pelo contrário.
“Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo.
Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos
perseguem; desse modo vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos
céus, porque ele faz nascer o seu sol igualmente sobre maus e bons e a
chuva sobre justos e injustos" (Mateus, 5:43). A palavra de Jesus mostra que é necessário deter o ciclo da violência e não, simplesmente, dar curso a ele.
Ser humilde
“Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mateus, 11:29).
Ao contrário do que se pode pensar, a humildade não tem nenhuma relação
com pobreza, com a maneira de se vestir ou com o ato de nos
rebaixarmos. A verdadeira humildade também não está nas palavras, mas na
atitude. Jesus é o maior exemplo de humildade. Humildade é perseverar
na decisão de esvaziar-se de si mesmo a cada dia, como disse Jesus: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, dia a dia tome a sua cruz e siga-me” (Lucas 9:23). Ninguém pode seguir a Jesus sem tomar a sua vontade – esta sim é primordial.
Ser feliz
Se as lições de Jesus Cristo funcionam como uma luz que ilumina a
vida, nesta seleção de ensinamentos não poderia faltar este que é um dos
objetivos mais buscados pelo homem: ser feliz. Mas, afinal, o que é
felicidade? Como pobres e aflitos podem ser declarados felizes? A
bem-aventurança, para Jesus, não enfoca a riqueza ou a pobreza, mas o
apego ou desapego. A questão reside no interior da pessoa, no seu
coração, no seu espírito. “Pois o Reino de Deus não é uma questão de
comida ou de bebida, mas de viver corretamente, em paz e com a alegria
que o Espírito Santo dá” (Romanos, 14:17).
* Colaborou Rafael Rodrigues da Silva, especialista em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, professor de teologia e co-autor do livro Bíblia: palavra de Deus, palavra de gente, da editora Paulus.